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Darren Staples / Getty Images.

Estamos em lagrimas. Mas nosso dia chegará

O resultado das eleições gerais britânicas é simplesmente terrível. Na Inglaterra, os trabalhistas perderam oitenta cadeiras diretamente para os conservadores. Ao norte da fronteira, ambos perderam assentos para os nacionalistas escoceses, prontos para conquistar quase todos os distritos eleitorais. Mas não chegará nem perto do suficiente para impedir Boris Johnson de ganhar um grande mandato com uma dura agenda de privatizações, pró-proprietários e racista.

Não achamos que seria diferente. A pesquisa de boca de urna divulgada pela IPSOS MORI às 22h dava aos Conservadores uma maioria de 86 – no final, foi pior que todas as previsões pré-eleitorais. Pior ainda, assentos ocupados pelo Partido Trabalhista durante a maior parte do século passado – muitas vezes conquistados pelo partido com base na organização de setores que não existem mais – passaram para os Conservadores.

Tudo indica que a mudança decisiva foi a questão do Brexit. Enquanto Boris Johnson prometeu, de qualquer maneira, “fazer o Brexit”, os trabalhistas pediam uma segunda votação, afastando-se da posição de 2017 de acompanhar o resultado do referendo de 2016. Antes da última eleição geral, negamos que planejávamos subverter a decisão democrática. Desta vez, parecia que estávamos admitindo.

Ignorando os eleitores do afastamento

O resultado eleitoral do nosso partido começou tarde, então tivemos que acompanhar a contagem pelo meu telefone no carro. Tories 368 assentos, Labor 191. Se tivéssemos ido bem, a visualização do resultado no carro poderia ter se tornado uma memória romântica, mas foi um fim malfadado de uma campanha impetuosa. Em vez disso, o resultado da votação chegou e ficamos em silêncio por alguns minutos. Portanto, talvez não devamos ser rápidos em comentar as razões mais profundas da derrota. Porém, há algumas coisas que estavam aparentes mesmo quando estávamos em campanha.

Em termos mais simples, enquanto os liberais se apressam em afirmar que Corbyn era “esquerdista” e “radical” demais, apontando para um novo líder centrista, nós nos saímos pior que antes sob a liderança de Corbyn em 2017, quando derrotamos grande parte dos conservadores. As perdas mais flagrantes estão nas cadeiras trabalhistas de regiões que votaram por deixar a União Europeia. Mesmo que as pessoas fossem influenciadas através das mentiras sobre os supostos vínculos “terroristas” de Corbyn, elas enxergaram nossa posição sobre o Brexit como algo absurdo.

Alguns diriam que apenas ativistas iludidos do Momentum (o movimento de base corbynista no interior do Partido Trabalhista) acreditavam em Corbyn. Ouvimos mentiras constantes de que ele é um anti-semita e o editor político da BBC estava claramente contra nós. Mas isso foi realmente decisivo? Minhas próprias conversas nas últimas semanas mostraram que a pressão insistente de outra minoria zelosa, os fanáticos da Remainer [Permanecer] que fazem campanha para derrubar os resultados do referendo de 2016, foi muito mais prejudicial. Isso nos colocou contra a aceitação do resultado do referendo pelo próprio eleitor médio, mas, em particular, nos colocou contra o norte da Inglaterra, altamente industrial e pró-afastamento da UE.

Ver o resultado apenas como uma expressão do racismo popular ou do viés da mídia – fatores reais nas eleições – pode nos desorientar profundamente desorientadora nas batalhas, principalmente na escolha do caminho a seguir para o próprio Partido Trabalhista. Não deveríamos ter permitido que o embate entre Brexiters vs. Remainers definisse a eleição. A promessa dos trabalhistas de um segundo referendo fez exatamente isso. Em toda a Europa, os partidos social-democratas definidos como defensores da cultura liberal encolheram. Os trabalhistas resistiram melhor, mas apenas em termos relativos.

Não precisava ser assim. Tivemos 40% dos votos há dois anos e meio, com Corbyn como líder. Havia mais de 12 milhões de votos para uma agenda radical. Mas quando, nesse período, supostos esquerdistas caracterizaram os eleitores do Brexit como “mineiros racistas” e nos pediram para substituí-los por “progressistas urbanos”, eles estavam dando ouvidos demais aos seus restritos e alienantes círculos sociais de classe média.

Em 2017, colocamos a austeridade no centro das eleições, unindo aqueles que haviam abandonado o trabalhismo com jovens, negros e minorias étnicas em um programa que era claramente anti-racista e claramente anti-austeridade. Não somos uma facção pró-UE como os Lib Dems, mas um partido que visa representar a maioria dos trabalhadores e usuários de serviços públicos. Desta vez, também fizemos isso… só que um pouco menos.

Corbynismo

No meu primeiro artigo para a Jacobin, quando Jeremy Corbyn começou sua disputa pela liderança trabalhista em junho de 2015, eu era um dos muitos cínicos. Os membros do partido não eram suficientemente radicais, eu disse; mesmo se ele vencesse, a resistência dos deputados seria grande demais e, de qualquer forma, essa classe política estava em declínio.

Eu estava errado. Ataques constantes a Corbyn sempre teve, muitas foram as mentiras – e o resultado final foi brutal. Mas os últimos quatro anos também viram um renascimento da política socialista organizada, que não está prestes a desaparecer. A solidariedade que construímos batendo perna nas ruas no escuro e na chuva é uma força real e vital, que pode até nos ajudar a superar esses próximos cinco anos.

Também aprendemos lições reais. Sabemos que a política socialista não é um questão restrita a pequenas seitas ou movimentos de protesto de rua. É uma causa estimulante que pode conquistar milhões de pessoas. Contra a constante mensagem de que os jovens são apáticos, vemos ao nosso redor a energia, o entusiasmo e o compromisso daqueles que fazem do Partido Trabalhista seu próprio partido.

Cercado por dentro e por fora do partido em seus quatro anos de liderança, sujeito a ataques pessoais vis, é bem possível que Jeremy Corbyn não continue como líder. Mas o espírito que ele trouxe para o partido e o engajamento de dezenas de milhares de ativistas que nunca teriam feito campanha por David Miliband ou Jess Phillips, é uma mudança duradoura na política britânica. Vimos que o futuro se baseia em: política de classe, serviços públicos, moradia social e não apenas na denúncia liberal do Brexit.

Não há como maquiar o resultado. Apelar a um espírito de resistência parece um pouco banal quando acabamos de sofrer uma derrota. A luta, mesmo para manter as coisas iguais, será muito mais difícil. Mas, a título de consolo, pelo menos agora temos mais camaradas com quem chorar, mais camaradas cuja dor é nossa e mais camaradas com quem, em algum dia brilhante no futuro, venceremos.

Cierre

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