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Jeanine Áñez, a presidente não eleita que atualmente preside a Bolívia depois que Evo Morales foi deposto em um golpe, acena na Assembléia Plurinacional do Congresso em 12 de novembro de 2019 em La Paz, Bolívia. (Javier Mamani / Getty Images).

“O melhor marqueteiro da campanha é o governo golpista porque ele não consegue governar o país”

Oito meses após o golpe militar na Bolívia, a líder de direita Jeanine Áñez do “governo de transição”, pouco fez para estabelecer sua legitimidade entre o povo boliviano. Apesar de desfrutar do apoio do governo Trump e de figuras como o líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó, Áñez definha no terceiro lugar nas pesquisas para a nova eleição, prevista para 18 de outubro, com apenas 13% de apoio.

As pesquisas mais recentes indicam que o candidato do Movimiento al Socialismo (MAS), Luis Arce, deve angariar 42% no primeiro turno, mostrando a continuidade do apoio popular ao partido do presidente deposto, Evo Morales. A questão agora é se as forças que orquestraram o golpe militar irão permitir o prosseguimento das eleições – com o líder da direita, Luis Fernando Camacho, reclamando para a Organização do Estados Americanos (OEA) que as bases de influência do MAS devem antes ser defenestradas. 

Vidal Gómez, foi parte de uma nova geração de atores políticos no governo de Morales. Hoje, ele é presidente do Consejo Plurinacional de la Juventud, delegado da Central Obrera Boliviana (COB) e presidente da Juventude Intercultural. Sua carreira política começou nos campos de plantação de folha de coca e na região agricultora de Yungas, organizando atividades sindicais entre os jovens e produtores da área. Ele conversou com Anton Flaig, sobre a situação na Bolívia pós-golpe, antes da planejada eleição.


AF

Após a crise eleitoral na Bolívia, entre outubro e novembro de 2019, muitos falaram de um golpe e denunciaram publicamente o clima de perseguição política. O que você pensa a respeito disso?

VG

Sim, todos os representantes de organizações sociais sofreram perseguição política. Eles foram reprimidos, não apenas via massacres diretos, como também por medidas judiciais e ameaças pelo Ministro do Governo, Arturo Murillo.

As organizações sociais lutaram para que se estabeleça uma data das eleições e para termos um governo democraticamente eleito. Mas por conta disso eles foram reprimidos por Murillo. Ele ameaçou repetidamente a presidente do Senado [Mônica Eva Copa, do MAS-IPSP de Morales], líderes de movimentos sociais e até mesmo jovens que publicaram críticas ao governo nas redes sociais.

Inclusive, Murillo ordenou a prisão de um jovem em Santa Cruz apenas por participar de grupos de WhatsApp do MAS. Eu também faço parte de mais de dez grupos destes e poderia ter sido preso, mas ainda não há julgamentos. Vimos que 90% da imprensa é aliada ao governo de transição, que por sua vez, também está usando a pandemia para estender seu mandato, de forma inconstitucional, para que não haja eleição. Eles não querem que o partido dos movimentos sociais – isto é, o MAS-IPSP – tenha sucesso.

AF

A COVID-19 foi a justificativa perfeita para o governo autoritário de Jeanine Áñez e o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) adiarem as novas eleições, de 3 de maio para 6 de setembro e em seguida para 18 de outubro. Aparentemente, o governo de Áñez não quer eleições e pretende culpar o MAS-IPSP pelos problemas de saúde pública. Você acha que as eleições irão acontecer?

VG

O TSE já forneceu uma data. Organizações sociais e a juventude esperam que o tribunal eleitoral possa ser um organismo independente. Estamos vendo que a fórmula usada pelo governo de transição é de fazer ameaças.

Eles fizeram isso por meio de uma carta à presidenta do Senado acusando-a de fazer mais do que sua autoridade permite. Ainda assim pediram à ela um relatório sobre saúde e biossegurança para as eleições. Essas são coisas que um presidente deveria fazer. Mas em vez disso, Áñez se desvia da responsabilidade e passa a bola para nós – os movimentos sociais – nos culpando por não estarmos cumprindo as tarefas que eles deveriam cumprir. 

Áñez precisa entender que nós podemos derrubar qualquer governo golpista. Nós pedimos que ela reconsiderasse e evitasse reprimir um povo unido, um povo com convicção, um povo que demanda dias melhores para a Bolívia.

AF

Essa união parecia estar em dúvida até que o ex-ministro da economia, Luis Arce Catacora, fora escolhido como candidato do MAS. Como você avalia o apoio à Luis Arce e seu candidato à vice-presidência, David Choquehuanca?

VG

Acreditamos que muitos jovens enxergavam que o governo Evo estava desgastado, mas aplaudiam suas ações. Eles acreditavam que com uma mudança de governo, talvez dias melhores chegassem para a Bolívia. Mas, agora, eles se voltaram ao MAS-IPSP, na busca por estabilidade econômica, por medidas reais de enfrentamento à pandemia e por conta da proximidade que o MAS-IPSP tinha com a população. 

Vemos que a nova presidência sequer visitou os nove departamentos da Bolívia. Ela quase não visitou sequer os municípios, exceto por algumas vezes em Beni [a região de Añez] e Santa Cruz. Isso demonstra como ela trabalha apenas para os interesses de uma pequena elite econômica. O povo boliviano esperava que o governo de transição convocasse eleições, mas todos os dias este toma atitudes que não correspondem a essa expectativa. As pessoas têm esperado pacientemente, mas também demonstraram como se sentem.

Todos os bolivianos querem uma boa administração da economia. E eles sabem que o MAS-IPSP é o partido que sabe como administrar bem a economia, com Luis Arce junto ao companheiro David Choquehuanca, ex-ministro de relações exteriores.

AF

O governo atual assinou contratos de US$ 1,2 bilhões. Você sabe das possíveis condições do FMI, como desvalorização do peso boliviano ou a eliminação dos Ministérios da Comunicação e da Cultura e Turismo? Isso parece particularmente impróprio, considerando que a Bolívia é mundialmente conhecida por seu multiculturalismo.

VG

A questão da cultura e da arte, de fato, está sendo afetada pelas mudanças nos ministérios que foram abolidos. Mas estamos certos de que após as eleições, o povo boliviano irá restaurar estes ministérios.

Não apenas estão tomando empréstimos do Banco Mundial e FMI, como também ainda não foi explicado onde este dinheiro está sendo gasto. Até mesmo fundos de saúde pública estão sendo roubados. Os ventiladores que chegaram estão praticamente inutilizados e custam mais de US$ 20.000 cada. Agora, o povo boliviano está aguardando a data das eleições. Lá, os bolivianos irão decidir quem será nosso presidente, quem irá levar o Estado Plurinacional da Bolívia adiante.

AF

Como presidente do Consejo Plurinacional de la Juventud, você é parte da Central Obrera Boliviana (COB), a qual recentemente declarou estado de emergência. O que você pode nos dizer sobre esse estado de emergência?

VG

Não apenas a COB. Assim como as organizações sociais, os conselhos de bairro, a vasta maioria do povo boliviano, estão em estado de emergência – simplesmente aguardando as eleições. Se o governo atual continuar seus atos corruptos, seguir no poder e buscar remover o status legal do MAS-IPSP, em vez de prosseguir com as eleições, o povo boliviano irá se levantar. Isso significa tomar medidas que nós sempre provamos ser possível, com o objetivo de avançar em nossas lutas e demandas.

AF

Agora o MAS-IPSP está liderando as pesquisas recentes com cerca de 40% e diante da crise econômica, o ex-ministro da economia, Luis Arce, parece o candidato ideal. Esta será a visão da campanha?

VG

O melhor marqueteiro da campanha é o governo golpista. Porque eles não conseguem administrar um país. A corrupção, a crise de saúde, a crise econômica e a crise sócio-política que estamos vivendo são exemplos claros de sua incompetência.

Nós queremos, baseados no trabalho do governo Evo por quinze anos, restaurar a estabilidade econômica – com Luis Arce como símbolo. Nossos irmãos da classe média também querem esta estabilidade e uma boa administração da economia. E eles sabem que o MAS-IPSP é o partido que sabe como prover isso. 

Cierre

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Published in América do Sul, Antifascismo, Eleições presidenciais, Entrevista, Golpes de estado, Militarismo and Política

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