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Saudação de John McDonnell, ministro da economia no gabinete paralelo da oposição, à Conferência do Partido Trabalhista de 2019 (setembro).

O futuro pode ser socialista

Ao que parece, em breve estaremos em campanha por toda a Grã-Bretanha para uma eleição geral que será a mais importante em pelo menos uma geração.

Faz um bom tempo que a frase “socialismo ou barbárie” de Rosa Luxemburgo não descreve tão bem a escolha que os eleitores do Reino Unido enfrentarão nas urnas.

Até as formas institucionais que os defensores da ordem estabelecida reverenciam como o ápice da democracia estão ameaçadas por uma forma de populismo de direita que mal tenta esconder suas conexões com movimentos ainda mais à direita.

Os parlamentares conservadores, geralmente tão entusiasmados em cantar louvores às instituições políticas britânicas, ficaram repentinamente, e suspeitosamente, quietos enquanto essas mesmas instituições são atacadas por um primeiro-ministro que faz o possível para imitar Donald Trump.

Uma citação de Karl Marx tem circulado bastante desde que Johnson suspendeu o parlamento e passou a ameaçar ignorar as leis aprovadas ali:

“Os conservadores da Inglaterra há tempos se pensavam como entusiastas da monarquia, da igreja e das belezas da antiga Constituição inglesa, até o dia em que o perigo lhes arrancou a confissão de, na verdade, só serem entusiastas mesmo da renda fundiária”.

Como socialistas, devemos defender a democracia em todas as suas formas, resistindo às tentativas de contornar o escrutínio e bloquear o debate.

O saudoso Paul Foot, em seu livro “O Voto” (The Vote), descreveu vividamente a luta pelo sufrágio universal e sua importância, ainda quando os oponentes políticos da democracia se esforçavam para enfraquecer seu poder e significado.

Mas precisamos ir além de defender o que foi ganho. Os socialistas acreditam que a democracia é algo a ser expandido, sempre e em toda parte, inclusive para a esfera econômica.

A democracia é, portanto, algo maior do que apenas uma eleição a cada 4 ou 5 anos – ou, como parece ser neste período de alta instabilidade, a cada 2 anos – ainda que esses direitos políticos sejam fundamentais.

Por que o poder sobre nossas próprias vidas, que a democracia deveria trazer, teria que parar quando adentramos o lugar de trabalho? Por que os trabalhadores de setores-chave, e as pessoas que usam seus serviços, não podem se encarregar de geri-los coletivamente?

Nossa democracia vai muito além de Westminster [a sede do governo inglês]. Ela foi fortalecida e impelida à ação pelas táticas extra-parlamentares dos ativistas climáticos, estudantes grevistas e aqueles que lutam contra a expansão dos aeroportos, que têm forçado os políticos a adotar, tardiamente, políticas para enfrentar a emergência climática.

Essas emergências constituem o cenário aterrorizante para as decisões políticas de hoje e exigem o tipo de políticas ousadas com as quais o Partido Trabalhista se compromete para as próximas eleições.

Somente o movimento trabalhista pode oferecer as soluções coletivas que nos permitam evitar mudanças climáticas catastróficas por meio da transição para uma economia sustentável, e sem infligir a dor neoliberal às comunidades da classe trabalhadora.

Ao vincular a luta pela justiça econômica à luta pela justiça ambiental em todo o mundo, podemos ganhar apoios necessários para mudanças transformadoras.

Como mostrou a última eleição geral, podemos ganhar milhões de pessoas para políticas radicais quando Jeremy e o resto de nós tivermos a chance de fazer campanha em todo o país e combater a desinformação divulgada por grande parte da mídia.

Já fizemos isso antes e – embora não devamos cometer o erro de supor que a história se repete – acreditamos que uma audiência justa e regras mais equilibradas para a mídia permitirão que as políticas trabalhistas cheguem às pessoas.

Mas se o Partido Trabalhista vencer uma eleição nos próximos meses, todos nós devemos resistir a qualquer tentação de considerar o trabalho como terminado. Ganhar o poder é apenas o começo da luta para nós.

Enfrentaremos uma enorme resistência por parte da ordem estabelecida e daqueles que têm pavor a um governo socialista que colocará fim a décadas de roubo legalizado por alguns poucos da elite.

Como eu disse na Conferência do nosso partido ano passado: quanto maior o estrago que herdarmos, mais radicais teremos que ser.

Assim como estamos comprometidos para as próximas eleições a fortalecer e ir além do programa eleitoral de 2017, teremos que tomar o novo programa como o ponto de partida para a transformação radical que precisamos realizar.

Essa transformação será realizada não pelos políticos, mas por todo o nosso movimento agindo em conjunto para pôr o mercado em seu lugar e ampliar a democracia.

É hora de direcionar nosso olhar para um outro mundo: uma sociedade radicalmente transformada, radicalmente mais justa, mais igualitária e mais democrática; uma sociedade baseada em uma economia próspera, mas uma economia sustentável econômica e ambientalmente, e onde essa prosperidade seja compartilhada por todos.

Esse outro mundo não é apenas possível, agora está à vista. E se continuarmos juntos, teremos a chance de começar a construí-lo antes de nos encontrarmos novamente na Conferência do próximo ano.

Publicado na Tribune

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Published in Análise, Eleições and Política

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